segunda-feira, 7 de julho de 2008

Artigo da Marina

MARINA SILVA
Antes ou só depois
DEFINIDAS AS candidaturas, move-se a roda das eleições municipais. Hora de cobrar dos candidatos compromisso com os temas que realmente interferem em nossas vidas.

Como já se disse, pessoas não moram nos mapas da União ou dos Estados. Estão nos municípios, no território onde as coisas acontecem, onde os problemas ambientais e sociais ganham cara, números, gravidade e gente diretamente afetada.

Tome-se o caso das mudanças climáticas globais. O nome imponente sugere algo da alçada de especialistas e de poderosos, não de cidadãos comuns ou de eleições municipais. Mas talvez falte exatamente a entrada em cena dos cidadãos comuns para que a coisa ande.

O IBGE, nos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2008, mostra vários indicadores negativos ou em evolução lenta na área ambiental, apesar de avanços como o aumento de 6,5% para 8,3% da área protegida em unidades de conservação federais. Há, de um lado, baixa capacidade institucional dos municípios para atingir bons níveis de sustentabilidade. A maioria ainda não tem secretaria ou conselho de meio ambiente. De outro, os municípios tiveram o maior aumento proporcional dos gastos públicos em meio ambiente, entre 1996 e 2004: de 0,4% para 1,1% do total das despesas. Os federais ficaram entre 0,3% e 0,4%, e os estaduais foram de 0,6% para 0,8%.

Há também algo diferente no ar: aumentou o número de candidatos municipais interessados em abordar meio ambiente em seus programas, sinal de que não há mais como ignorar o tema.

Como presidente da Subcomissão das Águas no Senado, participei da visita ao Sistema Cantareira e da reunião do comitê da bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, nos dias 26 e 27 de junho. Parte dessas águas é transposta para abastecer a cidade de São Paulo. O sistema está perto do limite. Foi gratificante ver prefeitos, técnicos, representantes de empresas, da academia e de ONGs unidos na busca de soluções para a escassez.

Os investimentos para suprir a demanda são enormes e cobrem períodos cada vez mais curtos. Há algumas décadas, o volume de recursos para proteger mananciais e planejar a ocupação urbana teria sido muito menor do que o necessário agora para captar água em locais cada vez mais distantes.

Pode a consciência ambiental gerar novas atitudes sem a pressão do prejuízo econômico e da privação dramática de recursos vitais? O comprometimento antecipado de eleitores e candidatos com essas questões, no quintal das eleições municipais, pode ser uma chance para responder que sim.

contatomarinasilva@uol.com.br

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