Falta envolvimento da sociedade
Balípodo. Meu contato com esta palavra pouco utilizada veio por meio do competente revisor do jornal Página 20, o professor Beneilton Damasceno. Antes de ser apresentado à expressão, fazia parte de uma enorme equipe que desconhecia completamente o seu significado.
Muito provavelmente pelo ofício que exerce, nosso revisor é obrigado a conhecer palavras novas para “pentear” e “maquiar” os textos dos jornalistas, que nem sempre encontram a tempo o sinônimo ou os antônimos de determinadas expressões.
O texto cheio de repetições cansa o leitor e revela fragilidade de conhecimento de quem propõe escrever.
Quase desconhecida, a palavra balípodo, porém, significa algo que está no cotidiano de todos nós. Em cada esquina, botequim, fila de bancos e até nas igrejas sempre há um espaço para o tema entrar na pauta. É raro o brasileiro que não tenha amor por um clube, que não seja fã ou nunca sonhou ser um jogador de futebol.
Sim, a nossa quase desconhecida palavra significa “futebol, uma paixão nacional”.
Nunca fui jogador, mas cheguei a sonhar entrando num estádio lotado, marcando belíssimos gols e tendo meu nome ovacionado por milhares de torcedores em pleno êxtase.
Os sonhos nos alimentam para encarar a realidade. É essa capacidade de sonhar pôr Rio Branco, a nossa capital, como uma das dezessete concorrentes à sede da Copa do Mundo de 2014. Estar dentro de um jogo tão complicado não é um feito qualquer. Afinal, o Brasil conta com mais de cinco mil municípios.
O jogo para a escolha da sede é demorado e requer que seja bem jogado. Semana passada, os inspetores da Fifa, a entidade máxima do balípodo mundial, estiveram no Acre. Vieram com a finalidade de inspecionar as instalações do Estádio Arena da Floresta e checar se Rio Branco tem condições de receber as seleções que virão ao Brasil participar de um evento em gramados brasileiros depois de 64 anos.
Em 1950, quando a primeira Copa foi realizada no Brasil, o mundo acabara de sair da Segunda Guerra Mundial. Poucos foram os participantes. Os países da Europa ainda tentavam se levantar dos escombros provocados pelos anos de combate.
Felizmente, o Brasil não sofreu tanto com a guerra. Seu envolvimento armado se deu quase no fim com o envio de militares para o combate na Itália.
A participação brasileira, no entanto, deu-se mais efetivamente com o fornecimento da borracha necessária para as forças aliadas construírem material bélico. Foi aí que o Acre entrou.
Os seringais da Malásia foram tomados pelos japoneses. Diante da situação, o governo brasileiro assinou um tratado com o governo americano, denominado “Acordos de Washington”, que desencadeou uma operação em larga escala de extração de látex na Amazônia - operação que ficou conhecida como a Batalha da Borracha.
A borracha foi produzida nos seringais acreanos, até então chamado de Território Federal do Acre.
Vencida a guerra pelos países aliados, a região voltou a ser esquecida pelo governo federal. Os “soldados da borracha” foram abandonados à própria sorte. Apenas os fortes sobreviveram. Os seringais entraram num processo decadente, culminando com a falência de seus proprietários.
Passados tantos anos, o mundo se volta novamente para a Amazônia. A região é apontada pela comunidade mundial como o pulmão verde da humanidade. A riqueza da biodiversidade das florestas é considerada patrimônio de todos os que habitam a Terra.
Com tanta importância para o futuro mundial, a região amazônica não poderia ficar de fora de um evento como a Copa do Mundo. Fazer de uma das suas cidades uma sede é quase obrigação dos homens que cuidam do futebol mundial.
Contrariando os prognósticos, Rio Branco, a nossa capital, ousou pôr o time em campo para disputar contra cidades maiores como Belém do Pará e Manaus, no Amazonas, o privilégio de ser a “SedeVerde” da Copa.
A participação da capital acreana no jogo é um gesto de ousadia, porque, no início da colonização e ocupação da Amazônia, as capitais do Pará e do Amazonas funcionavam com sedes do grande seringal que era o território que um dia veio se tornar o Estado do Acre.
Manaus e Belém são grandes e populosas, têm mais recursos e contam com maiores lobbies para tentar sensibilizar a comunidade esportiva internacional a ser a sede amazônica da Copa. Esse é um fato inquestionável.
Mas aqueles que cantam loas às duas cidades concorrentes de Rio Branco não podem desconsiderar que elas tornaram-se grandes graças à exploração da borracha que saíram dos nossos seringais. Que a entrada da capital do Acre revela-se uma demonstração de que não dá para continuarmos sendo um ente federativo periférico em relação aos demais Estados brasileiros.
O Acre avançou em todos os segmentos. Há muito tempo deixou de ser um seringal do Pará e do Amazonas. Hoje, é um dos Estados que mais cresce na região e tem dado exemplos de bom trato com o dinheiro público, no funcionamento das instituições, e tem, sim, preparo técnico para entrar em campo e jogar em pé de igualdade contra seus rivais.
Acompanhando os noticiários nacionais, essa é uma disputa que, pelo que se comenta, há favoritos. Autoridades como o ministro do Esporte, Orlando Silva, já declinaram sua preferência pelos dois adversários de Rio Branco. O pior, no entanto, é que a torcida do contra não vem apenas do lado externo. Vários acreanos, com o eterno complexo de inferioridade, argumentam que nossas chances são reduzidas porque as outras capitais estão mais bem estruturadas.
Talvez o discurso da falta de estrutura soe bem para os torcedores do contra. Mas, se a situação for analisada com frieza, há de se chegar à conclusão de que nem o Brasil tem a infraestrutura necessária para sediar um evento da magnitude de uma Copa do Mundo. Mas as obras serão realizadas. Os investimentos terão que ser chegar às doze sedes, que ganharão de goleada daquelas cidades que permanecerão apenas no alambrado assistindo à partida.
Completo quarenta e quatro anos na próxima sexta-feira. Nunca fui um craque, mas sempre gostei de jogar umas boas partidas de balípodo. Embora seja carente de talento para vestir a camisa 10 de um time de bairro, algumas pessoas mais carinhosas e afetuosas chegam a dizer, para me agradar, que fui um bom jogador. Não discordo porque as declarações alimentam o ego.
Sempre disse, e digo, que o bom de bola da família foi meu irmão Paulo Airton, o Paulinho, que jogou por todas as grandes equipes do Acre e chegou a atuar no exterior. Ele era um craque, mas faz parte de uma geração carente de profissionalismo. Não havia ousadia nos tempos idos. O jogo jogado tinha recheios de romantismo. As arquibancadas do velho José de Melo que o digam.
O balípodo romântico faz parte do passado. O futebol do Acre é um pseudoprofissional. O campeonato estadual, há anos patrocinado pelo governo, dura no máximo três meses, com equipes sendo formadas em cima da hora por atletas que nem sempre têm preparo de atletas.
Apesar da carência de profissionalismo, ao menos dentro dos gramados, o nosso representante na Terceira Divisão do futebol nacional tem conseguido superar os rivais paraenses e amazonenses. O Rio Branco tem derrotado com frequência equipes de Belém e de Manaus, dentro e fora do Arena da Floresta. Uma prova de que houve evolução e de que o futebol, que é encarado como paixão no Pará, também é bem jogado no Acre.
Por falar em jogar bem, a turma que vem conduzindo o projeto para que Rio Branco seja uma das sedes está sendo ousada e jogando como manda o figurino. Em termos técnicos, não há reparos.
A única falha visível é que não conseguiram pôr os torcedores em campo. Está faltando o envolvimento da sociedade, que assiste aos discursos e à movimentação sem saber muito bem o que está acontecendo.
O distanciamento da sociedade faz crescer o sentimento de descrédito nas nossas possibilidades. Torcedor é apaixonado. Ele empurra seu time rumo à vitória nos momentos mais adversos. Infelimente, está faltando torcedor do lado do Acre. Um tema tão importante como esse não pode ficar restrito aos gabinetes e à falas oficiais, pois se trata de uma bandeira que deveria ser carregada por cada um de nós. Eu, do meu lado, não fui convocado para entrar em campo. Mas, como bom acreano, ficarei na torcida, mesmo sabendo que o jogo não é para amador ou peladeiro.
Muito provavelmente pelo ofício que exerce, nosso revisor é obrigado a conhecer palavras novas para “pentear” e “maquiar” os textos dos jornalistas, que nem sempre encontram a tempo o sinônimo ou os antônimos de determinadas expressões.
O texto cheio de repetições cansa o leitor e revela fragilidade de conhecimento de quem propõe escrever.
Quase desconhecida, a palavra balípodo, porém, significa algo que está no cotidiano de todos nós. Em cada esquina, botequim, fila de bancos e até nas igrejas sempre há um espaço para o tema entrar na pauta. É raro o brasileiro que não tenha amor por um clube, que não seja fã ou nunca sonhou ser um jogador de futebol.
Sim, a nossa quase desconhecida palavra significa “futebol, uma paixão nacional”.
Nunca fui jogador, mas cheguei a sonhar entrando num estádio lotado, marcando belíssimos gols e tendo meu nome ovacionado por milhares de torcedores em pleno êxtase.
Os sonhos nos alimentam para encarar a realidade. É essa capacidade de sonhar pôr Rio Branco, a nossa capital, como uma das dezessete concorrentes à sede da Copa do Mundo de 2014. Estar dentro de um jogo tão complicado não é um feito qualquer. Afinal, o Brasil conta com mais de cinco mil municípios.
O jogo para a escolha da sede é demorado e requer que seja bem jogado. Semana passada, os inspetores da Fifa, a entidade máxima do balípodo mundial, estiveram no Acre. Vieram com a finalidade de inspecionar as instalações do Estádio Arena da Floresta e checar se Rio Branco tem condições de receber as seleções que virão ao Brasil participar de um evento em gramados brasileiros depois de 64 anos.
Em 1950, quando a primeira Copa foi realizada no Brasil, o mundo acabara de sair da Segunda Guerra Mundial. Poucos foram os participantes. Os países da Europa ainda tentavam se levantar dos escombros provocados pelos anos de combate.
Felizmente, o Brasil não sofreu tanto com a guerra. Seu envolvimento armado se deu quase no fim com o envio de militares para o combate na Itália.
A participação brasileira, no entanto, deu-se mais efetivamente com o fornecimento da borracha necessária para as forças aliadas construírem material bélico. Foi aí que o Acre entrou.
Os seringais da Malásia foram tomados pelos japoneses. Diante da situação, o governo brasileiro assinou um tratado com o governo americano, denominado “Acordos de Washington”, que desencadeou uma operação em larga escala de extração de látex na Amazônia - operação que ficou conhecida como a Batalha da Borracha.
A borracha foi produzida nos seringais acreanos, até então chamado de Território Federal do Acre.
Vencida a guerra pelos países aliados, a região voltou a ser esquecida pelo governo federal. Os “soldados da borracha” foram abandonados à própria sorte. Apenas os fortes sobreviveram. Os seringais entraram num processo decadente, culminando com a falência de seus proprietários.
Passados tantos anos, o mundo se volta novamente para a Amazônia. A região é apontada pela comunidade mundial como o pulmão verde da humanidade. A riqueza da biodiversidade das florestas é considerada patrimônio de todos os que habitam a Terra.
Com tanta importância para o futuro mundial, a região amazônica não poderia ficar de fora de um evento como a Copa do Mundo. Fazer de uma das suas cidades uma sede é quase obrigação dos homens que cuidam do futebol mundial.
Contrariando os prognósticos, Rio Branco, a nossa capital, ousou pôr o time em campo para disputar contra cidades maiores como Belém do Pará e Manaus, no Amazonas, o privilégio de ser a “SedeVerde” da Copa.
A participação da capital acreana no jogo é um gesto de ousadia, porque, no início da colonização e ocupação da Amazônia, as capitais do Pará e do Amazonas funcionavam com sedes do grande seringal que era o território que um dia veio se tornar o Estado do Acre.
Manaus e Belém são grandes e populosas, têm mais recursos e contam com maiores lobbies para tentar sensibilizar a comunidade esportiva internacional a ser a sede amazônica da Copa. Esse é um fato inquestionável.
Mas aqueles que cantam loas às duas cidades concorrentes de Rio Branco não podem desconsiderar que elas tornaram-se grandes graças à exploração da borracha que saíram dos nossos seringais. Que a entrada da capital do Acre revela-se uma demonstração de que não dá para continuarmos sendo um ente federativo periférico em relação aos demais Estados brasileiros.
O Acre avançou em todos os segmentos. Há muito tempo deixou de ser um seringal do Pará e do Amazonas. Hoje, é um dos Estados que mais cresce na região e tem dado exemplos de bom trato com o dinheiro público, no funcionamento das instituições, e tem, sim, preparo técnico para entrar em campo e jogar em pé de igualdade contra seus rivais.
Acompanhando os noticiários nacionais, essa é uma disputa que, pelo que se comenta, há favoritos. Autoridades como o ministro do Esporte, Orlando Silva, já declinaram sua preferência pelos dois adversários de Rio Branco. O pior, no entanto, é que a torcida do contra não vem apenas do lado externo. Vários acreanos, com o eterno complexo de inferioridade, argumentam que nossas chances são reduzidas porque as outras capitais estão mais bem estruturadas.
Talvez o discurso da falta de estrutura soe bem para os torcedores do contra. Mas, se a situação for analisada com frieza, há de se chegar à conclusão de que nem o Brasil tem a infraestrutura necessária para sediar um evento da magnitude de uma Copa do Mundo. Mas as obras serão realizadas. Os investimentos terão que ser chegar às doze sedes, que ganharão de goleada daquelas cidades que permanecerão apenas no alambrado assistindo à partida.
Completo quarenta e quatro anos na próxima sexta-feira. Nunca fui um craque, mas sempre gostei de jogar umas boas partidas de balípodo. Embora seja carente de talento para vestir a camisa 10 de um time de bairro, algumas pessoas mais carinhosas e afetuosas chegam a dizer, para me agradar, que fui um bom jogador. Não discordo porque as declarações alimentam o ego.
Sempre disse, e digo, que o bom de bola da família foi meu irmão Paulo Airton, o Paulinho, que jogou por todas as grandes equipes do Acre e chegou a atuar no exterior. Ele era um craque, mas faz parte de uma geração carente de profissionalismo. Não havia ousadia nos tempos idos. O jogo jogado tinha recheios de romantismo. As arquibancadas do velho José de Melo que o digam.
O balípodo romântico faz parte do passado. O futebol do Acre é um pseudoprofissional. O campeonato estadual, há anos patrocinado pelo governo, dura no máximo três meses, com equipes sendo formadas em cima da hora por atletas que nem sempre têm preparo de atletas.
Apesar da carência de profissionalismo, ao menos dentro dos gramados, o nosso representante na Terceira Divisão do futebol nacional tem conseguido superar os rivais paraenses e amazonenses. O Rio Branco tem derrotado com frequência equipes de Belém e de Manaus, dentro e fora do Arena da Floresta. Uma prova de que houve evolução e de que o futebol, que é encarado como paixão no Pará, também é bem jogado no Acre.
Por falar em jogar bem, a turma que vem conduzindo o projeto para que Rio Branco seja uma das sedes está sendo ousada e jogando como manda o figurino. Em termos técnicos, não há reparos.
A única falha visível é que não conseguiram pôr os torcedores em campo. Está faltando o envolvimento da sociedade, que assiste aos discursos e à movimentação sem saber muito bem o que está acontecendo.
O distanciamento da sociedade faz crescer o sentimento de descrédito nas nossas possibilidades. Torcedor é apaixonado. Ele empurra seu time rumo à vitória nos momentos mais adversos. Infelimente, está faltando torcedor do lado do Acre. Um tema tão importante como esse não pode ficar restrito aos gabinetes e à falas oficiais, pois se trata de uma bandeira que deveria ser carregada por cada um de nós. Eu, do meu lado, não fui convocado para entrar em campo. Mas, como bom acreano, ficarei na torcida, mesmo sabendo que o jogo não é para amador ou peladeiro.
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