Ao Leo o que é do Leo!
Beneilton Damasceno
Em março de 1998, quando o acreano “quase paraense” José Chalub Leite trocou o vício das redações de jornais por um lugar bem acima de nossas cabeças, a imprensa nativa acusou o golpe com tamanha resignação que não se deu a importância de, digamos, nomear, mesmo “ad referendum”, algum profissional que assumisse o posto de primeiro-suplente, uma espécie de “vice-Zé Leite” ou cargo similar, procedimento corriqueiro em qualquer categoria organizada. Entretanto, mais de treze anos depois, o vasto grupo de escribas acreanos preferiu fazer opção pela orfandade consensual.
Se levarmos em conta, ao pé da letra, os critérios mais aceitáveis e essenciais para a eleição dessa figura - a competência e o amor ao ofício de redigir -, é possível listar rapidamente um tímido número de damas e cavalheiros - uns já vetustos, outros mais ou menos quarentões. Lá se vão alguns deles (a ordem é aleatória): Francisco Dandão, Elson Martins, Antônio Alves, Silvio Martinello, o “acreoca” Marcus Vinícius, Florentina Esteves, Marcos Afonso, Antonio Stélio, Onides Bonaccorsi, José Cláudio Mota Porfiro, José Augusto Fontes, Altino Machado, Romerito Aquino, Tião Maia e mais umas três ou quatro celebridades que os neurônios sofríveis deste signatário teimam em não revelar.
Comete-se, todavia, uma injustiça quando se deixa no banco de reservas desse valoroso time um garotão nascido no Vale do Juruá e que, ao contrário dos bambambãs acima escalados, salvo engano, não tem anexado ao curriculum vitae o orgulhoso diploma de “dactilografia”, requisito imprescindível à moçada da velha guarda que almejava ingressar na profissão de jornalista. O garotão, que igualmente ultrapassou a barreira das quatro décadas de sol e chuva, é filho de Cruzeiro do Sul e, ainda meninote, veio com a família morar na capital acreana. Seu nome é Leonildo Rosas, batizado e crismado na quadra de esporte do bairro José Augusto e no campo do Vasco.
Apesar de havê-lo conhecido na adolescência, comecei minha intimidade profissional com o Leo em março de 1995 - ele, como eu, modestamente um dos pioneiros deste Página 20, junto com o Assem Neto, os criadores Stélio e Elson Dantas e o não menos saudoso Pheyndews Carvalho. As máquinas Olivetti, Remington e Olympia haviam meses antes sido enxotadas pelo computador 486.
Leonildo caiu nessa vida de escrevinhador publicando raivosos libelos - a maioria editoriais e artigos - contra o então governador Orleir Cameli (por ironia seu conterrâneo), seus auxiliares e um assessor de comunicação importado de Rondônia cujo nome nem o infalível Google fez questão de comigo colaborar. Logo depois, o rapaz (o Leo, não o importado de Rondônia) já era editor... Os contracheques vencidos em três, quatro meses, como retaliação aos ataques ao inquilino de um palacete na Rua Isaura Parente, foram usados como combustível para que seus pacientes comandados não sucumbissem - ainda que com visível redução de massa corpórea e vítimas de constantes ameaças dos “insensíveis” cobradores. Tempos que, pela misericórdia divina, não voltarão mais. Amém!
Passaram-se os anos, muitas mudanças de espaço físico, e a vida dos que resistiram melhorou, não há como contestar (os credores, por exemplo, ou desistiram das investidas quase diárias ou findaram cedendo a acordos “cara-de-macaco”, sem o mínimo suporte jurídico). Pelo que tudo indica, ambas as partes perderam menos do que imaginavam.
Mais o que de fato conquistou o público foram os textos primorosos do neófito Leo, que acabou promovido a colunista político, pela afinidade manifestada e aceita pelos leitores. Hoje, depois das manchetes da capa, a coluna “Poronga”, aqui do lado esquerdo, na página 2, é o itinerário natural do matutino, seja no impresso, seja no monitor.
Melhor ainda é que o Leo permanece sereno e avesso à jactância que infelizmente contaminou certos portadores de canudo, bem como os caducos presunçosos. Quando, lá pelas 9 da noite, este revisor liga para ele, a pergunta é automática: “Diga, meu caro, onde foi que eu errei?”. Na verdade, o “erro” do velho Leo da dona Carmela é, sem ver nem pra quê, acrescentar um bendito “s” em tudo que é palavra no singular. Como a revisão se familiarizou com o macete, já considera o contratempo um charme pessoal - ou marca registrada, se assim aprouver ao colunista.
Outro trauma - agora da minha parte - é que, mesmo depois de tanta rasgação de seda, o Leonildo é tão mão-de-vaca que sequer teria a iniciativa de me emprestar o seu possante carrão para ir comprar amendoim do Japonês na vizinha Senador Guiomard. Quarenta e oito quilômetros, hômi! - 24 para ir e 24 para voltar. Seria pedir muito, meu camarada?
Fim
Jornalista seringueiro
Comentário: Obrigado, amigo Bené!
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