terça-feira, 26 de abril de 2011

Artigo

A CARNE DO ACRE É LEGAL!!

Mauro Ribeiro

Poucos produtos são tão genuinamente acreanos quanto a melhor carne do Brasil, a nossa carne. Consumimos uma carne saborosa, macia, suculenta, frequentadora das melhores churrascarias do Brasil. Mais que isso: da mesa de todas as famílias acreanas. Falo sobre as qualidades de nossa carne para começar, pelo sabor, a rebater a recente tentativa de criminalizar a incipiente produção pecuária acreana, com a proposição de uma multa estratosférica e as consequências nefastas de tal ato.

Não considero que esta seja uma discussão reservada a especialistas. É de interesse de toda a sociedade. Posso afirmar que, no meu entendimento, trata-se de uma ação extemporânea e intempestiva, feita para reacender velhos holofotes midiáticos e tentar jogar por terra todo o esforço histórico que governo e sociedade construímos na superação de antigas divergências.

No fundo trata-se de uma questão puramente ideológica, manifestada sempre em suposta defesa dos interesses da população, em abrigo a um modelo de desenvolvimento de que a Amazônia tem dados seguidas provas de saber fazê-lo diferente, o Acre em especial. Tem sido assim sempre que algum projeto de desenvolvimento é colocado em curso: dificuldades e embaraços são criados para manter a Amazônia como santuário de pobres e isolados, num rosário de exigências inaplicáveis em qualquer outro estado brasileiro.

Considero extemporânea porque comete um erro histórico. Desconhece quem é o verdadeiro pecuarista do Estado. Com a mira ideológica voltada para os grandes fazendeiros, acerta o alvo nos pequenos proprietários, que diz defender. Ora, nem sonham que cerca de 80% das propriedades tem menos de 100 cabeças de gado. Se pensarmos em até 500 cabeças, quase 98% dos produtores estão concentrados neste intervalo.

Juntos, detêm a maioria do rebanho e são, ainda, os principais fornecedores de bezerros para recria e engorda.

É intempestiva porque o Acre, desde 2007, fez aprovar a Lei Estadual do Zoneamento Ecológico-Econômico, estabelecendo, dentre tantas coisas boas, a possibilidade de regularização de áreas com passivo ambiental, inclusive estabelecendo a modalidade da desoneração, em adição às de compensação de reserva legal, regeneração natural e reflorestamento -- já previstas no moribundo Código Florestal.

Só por isso -- por existir um programa de regularização de passivo ambiental em pleno curso -- já seria injustificável atropelar prazos, impondo julgamento antes mesmo de concluir etapas de defesa e adequação de todos os produtores que desejam permanecer na legalidade. Além disso, impor medidas tão draconianas à economia do Estado, justamente no único setor consolidado e responsável pela geração de riquezas e oportunidades de trabalho, onde foi plantada uma verdadeira cadeia produtiva, é apostar no caos, na quebradeira. Por isso, não se justifica acenar para o setor tendo à mão a dura intenção de proposição de Termos de Ajustamento de Conduta, como se assinar um TAC fosse necessariamente uma solução tão generosa. Não pode haver generosidade com imposição. É sempre necessário considerar os dois lados.

A multa proposta -- e o consequente embargo aos frigoríficos -- ajuda a pensar que o julgamento e a condenação estão antecipados a qualquer possibilidade de discussão.Todos sabem que temos prazo em aberto, que estão andando os processos de licenciamento e regularização ambiental. Mais ainda: que está havendo adesão dos nossos produtores, a tal ponto de muitas propriedades rurais já se encontrarem regularizadas, e outras encaminhando uma série de providências para darem entrada em seus processos de regularização, a exemplo do Georreferenciamento de cada área, um processo oneroso e necessário.

Quem é que não sabe que nos dias 3 e 4 de maio o Congresso Nacional estará votando a proposta de alteração do Código Florestal, removendo um dos mais velhos entulhos que conheço? Será oportunidade para adequá-lo aos novos tempos sem descuidar da proteção ambiental.

Pelas propostas em discussão, algumas com a sinalização de consenso por parte da base governista, é possível resolver mais 90% dos problemas de passivo ambiental em nosso Estado, o que atenderia a expectativa de milhares de pequenos produtores rurais.

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