segunda-feira, 11 de abril de 2011

Opinião


Kassab, Petecão e
a conexão amazônica

Gilberto Kassab veio, viu e gostou da recepção que teve em Rio Branco. Foi recebido em clima de euforia no Aeroporto Internacional Plácido de Castro pelos aliados acreanos.

Antes de pisar o solo acreano, fez atos em Salvador, Goiânia, Curitiba e Belo Horizonte. Em cada cidade preparou um discurso de acordo com o interesse da plateia.

Hora aparece como afinado com a presidenta Dilma Rousseff, hora deixa a turma livre para surfar na oposição.

O prefeito de São Paulo tirou este fim de semana para realizar a pescaria nos Estados amazônicos. Teve agenda em Palmas (TO) e irá a Manaus (AM) hoje à noite, onde amanhã participa de ato político.

Das três cidades da região, o paulistano levará no embornal diversos peixes pequenos. São pescados simbólicos para fazer número nos poucos dias que antecedem a Semana Santa. Mas o que ele quer mesmo são os peixes grandes com mandatos de senador, deputado federal, prefeito e governador.

Pelo que se viu e que se escutou, a incursão na floresta amazônica foi proveitosa. O anzol foi posto na boca do governador do Amazonas, Omar Aziz, do prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, e dos senadores Kátia Abreu (TO) e Sérgio Petecão (AC).

Kassab pôs um caniço na água da infidelidade partidária. A tralha de pescador é uma isca atraente para quem não tem ideologia como princípio de vida. Prova inconteste é a fisgada de políticos infiéis, como se tivesse estendido uma malhadeira gigantesca no rio das contradições eleitorais.

Sufocado dentro de uma aliança histórica do PSDB com o DEM em São Paulo, o prefeito decidiu pular fora e criar um partido para chamar de seu.

Escolheu uma sigla que relembrasse um presidente emblemático da vida nacional e ressuscitou o PSD, partido que abrigou o mineiro Juscelino Kubistchek.

Kubistchek quis 50 anos de desenvolvimento em apenas cinco de governo. Fez muitas coisas. Kassab está conseguindo criar um partido forte em menos de 50 dias.

Com a ideia de montar um partido na cabeça, o paulistano pôs os pés na estrada. Contou com as falhas gritantes do ineficiente e ultrapassado sistema eleitoral brasileiro para dar vida a seu plano.

Antes da caminhada, tratou de acenar com uma conveniente aproximação com o Palácio do Planalto. Sonhando ser governador de São Paulo, deixou claro que o PSD fará parte do consórcio que apoia a presidenta Dilma Rousseff.

Nessa aproximação com o governo federal, o “dono” do PSD encontrou guarida até entre políticos que, assim como ele, trabalharam fervorosamente pela candidatura derrotada do tucano José Serra.

Entre esses políticos ex-serristas está o senador acreano Sérgio Petecão.

Mesmo distantes territorialmente e tendo se aproximado fisicamente há pouquíssimo tempo, Petecão e Kassab guardam profundas semelhanças na forma de fazer política.

Tudo que o prefeito paulistano conquistou na política foi no extinto PFL (hoje DEM), na aliança com PSDB. Herdou, aliás, a prefeitura da maior cidade brasileira graças à renúncia de José Serra, que se elegeu governador.

Os tucanos foram tão fieis a ele que deixaram a candidatura de Alckmin a prefeito no meio do caminho para apoiar sua reeleição.

Petecão, por sua vez, também foi tratado com carinho pelo PT e os demais partidos da Frente Popular. Com o apoio do grupo político, foi eleito para quatro mandatos de presidente da Assembleia Legislativa e um de deputado federal.

O senador acreano, assim como o paulistano, sentiu que seu espaço no grupo que o abrigou por tantos anos chegara ao teto e partiu para o lado da oposição, onde logo se cacifou como liderança.

Além da trajetória marcada pelo desprezo aos antigos aliados, Petecão e Kassab têm o mesmo objetivo: serem eleitos governador nas eleições de 2014. É nesse instante que aparecem as possibilidades de influência externa na política e nos destinos dos acreanos.

Durante a campanha do ano passado, por diversas vezes, o então candidato ao governo Tião Bocalom (PSDB) foi a São Paulo pedir socorro financeiro a José Serra e ao atual governador Geraldo Alckmin. A ineficiente fiscalização das prestações de conta dos políticos não aponta se o reforço de caixa veio.

Enquanto Bocalom ia a São Paulo, Petecão foi a Manaus conversar com Omar Aziz, o governador que também está migrando do PMN para o PSD.

São Paulo, de Gilberto Kassab, e Manaus, de Amazonino Mendes, estão entre os municípios que têm o maior Produto Interno Bruto do país. São localidades onde há uma intensa circulação de recursos públicos e privados. E dinheiro é muita coisa numa campanha.

É de domínio público que os políticos amazonenses e paulistas não se negam a ajudar aqueles que enfrentam o atual grupo que está no governo do Estado. Há uma rivalidade não expressa publicamente de lideranças do Amazonas contra, principalmente, o governador Tião Viana e o senador Jorge Viana.

O Acre é pequeno, mas carrega uma simbologia nacional para os petistas por ser o único Estado onde o partido governa há quatro mandatos consecutivos.

Esse sentimento antagônico manifestou-se com grande repercussão nas eleições de 2006, quando o hoje deputado federal Marcio Bittar (PSDB) enfrentou o petista Binho Marques e perdeu.

Mais uma vez não houve confirmação oficial da entrada de dinheiro na campanha. Certo mesmo é que Bittar não ficou desamparado. Foi nomeado para ocupar cargo no governo do Amazonas sem necessitar suar a camisa e bater ponto. Sua mulher também recebeu pelo erário amazonense sem necessitar ir ao local de trabalho.

Na época, foi denunciada na imprensa amazonense uma suposta sociedade entre Bittar e o ex-governador e atual senador Eduardo Braga (PMDB). O parlamentar amazonense, segundo a denúncia, mantinha um volumoso rebanho bovino na fazenda do tucano, na estrada de Sena Madureira.

O político experiente e matreiro sabe que alimentar essa rivalidade traz bons dividendos. Petecão tem essa compreensão.

Compreende tanto que condicionou sua entrada no PSD à de Aziz. O senador do Acre sonha com o governo. Para tornar esse sonho realidade, não demonstra preocupação com a soberania do Acre.

O importante é que o financiamento da sua futura campanha esteja garantido por padrinhos que administram orçamentos poderosos, como Aziz, Kassab e o prefeito manauara Amazonino Mendes.

O acreano deve tomar cuidado para não ser fisgado pelas promessas de quem faz política mirando apenas o próprio umbigo - ainda que o faça em nome do povo.

Alternância de poder faz parte do jogo político. Mas é fundamental que o próprio povo se encarregue da alternar. A influência externa por meio da conexão amazônica foi coibida no início do século passado por José Plácido de Castro, o herói acreano que emprestou seu nome para o aeroporto que recebeu Kassab.

PS.: Omar Aziz é afilhado político de Eduardo Braga, o mesmo político que tentou influenciar na política acreana nas eleições de 2006.

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