O governador dos 50 anos
Tião Viana debutou na política em 1994. Foi a aposta do PT e dos demais partidos da Frente Popular para enfrentar candidatos do peso do então senador da República Flaviano Melo e do milionário de Cruzeiro do Sul Orleir Cameli.
Naquele ano o petista não venceu. Era de domínio público que as suas chances seriam reduzidas.
Ficou fora até da disputa do segundo turno. A vitória sorriu para Orleir Cameli, que fez um governo sem deixar saudades à população acreana.
O resultado da eleição, porém, foi encarado como vitorioso. Além de apresentar uma nova liderança, o PT conseguiu eleger Marina Silva senadora.
A história do Acre começou a tomar um novo rumo ali.
Viana era um jovem médico de apenas 34 anos. Não era suficientemente conhecido. Tinha até dificuldades para exercer a sua profissão na rede pública de saúde em razão da sua opção política.
Quatro anos depois, em 1998, a história foi diferente. Concorreu ao Senado ao lado do seu irmão Jorge Viana, que disputou o governo. Ambos foram eleitos. Derrotou o mesmo Flaviano Melo de 1994 na disputa da única vaga de senador.
Aos 38 anos, Tião começou por onde a maioria dos políticos costuma terminar.
No Senado, uma casa de políticos experientes, não foi apenas um figurante.
Ao lado de Marina Silva conseguiu fazer da bancada acreana uma referência nos debates dos grandes temas nacionais.
Sua atuação lhe credenciou para ser reeleito em 2006 com mais de 80% dos votos válidos. Foi o mais bem votado em nível percentual do país.
Como parlamentar foi líder do PT, do governo e chegou à vice-presidência do Senado. Há dois anos disputou a presidência com o morubixaba José Sarney (PMDB) defendendo a bandeira da ética e da reformulação nos procedimento da casa.
Suas propostas eram avançadas demais para ser implementada numa casa marcada pelo conservadorismo. Os senadores não queriam perder privilégios. Preferiram Sarney como garantia de que nada mudaria.
Ano passado Tião Viana foi eleito governador e teve que abrir mão de quatro anos de mandato de senador.
Na eleição, contrariando as pesquisas, não encontrou caminho fácil. Venceu no primeiro turno com uma margem pequena de votos.
A vitória apertada serviu como alerta. Veio no tamanho certo e baixou o salto de pessoas que passaram a achar que o povo era quem lhe devia satisfação e não o contrário.
Viana é o quarto governador seguido do PT no Acre. É uma experiência única do partido no país. Mas, ao contrário do que se pode imaginar, a sua missão é árdua.
O projeto de governo que teve início após a eleição de 1998 ajudou a transformar a realidade do Acre, mas sofre a fadiga natural de quem está no poder e perdeu parte relevante do pacto com parcela considerável da sociedade.
Viana tem a missão de iniciar um novo ciclo administrativo do PT e da Frente Popular. É como se os últimos doze anos servissem apenas como espelho do que dever continuar e do que necessita ser mudado.
Os problemas administrativos são mínimos, mas os políticos são enormes. Há um sentimento forte de antigoverno fervilhando no meio da massa. É como se houvesse uma conspiração do silêncio em cada esquina ou repartição pública.
Muitos procedimentos devem ser mudados. As mudanças passam muito mais pela forma do que pelo conteúdo. É uma questão de humanizar as relações sem abrir mãos de conceitos fundamentais como a honestidade e transparência nas ações.
Esse novo ciclo inclui a promoção do desenvolvimento econômico sustentável fincado em bases sólidas. Insere a necessidade de abrir portas para o diálogo e gerar expectativas positivas para uma massa de jovens ávida por um caminho, por um emprego.
É fundamental encontrar uma forma de fazer um repacto com a sociedade na busca coletiva de um ressignificado para o Acre que todos querem e sonham neste século XXI.
Inexplicavelmente, um projeto que nasceu das bases sociais conseguiu perder a liga com setores importantes. Perdeu-se muito no tecnicismo e deixou de sentir o cheiro das ruas, do povo.
O mais grave é que a oposição não estar nos partidos ou lideranças opositoras. Esses são apenas fonte de descarrego das frustrações e insatisfações.
A oposição está no sentimento. E essa é mais difícil de ser revertida.
O governador que faz 50 anos nesta quarta-feira será o mesmo quando o Acre completar 50 anos de Estado em junho do próximo ano. Viana é o oitavo governador eleito democraticamente pelo voto.
Tanto Tião Viana quanto o Acre-Estado são jovens, mas ambos têm pressa por resultados positivos.
Tião Viana tem como trunfo o fato de não gostar de ficar preso em gabinete. Prefere sentir o odor e escutar os recados que vêm das ruas. Exige que a sua equipe tenha o mesmo olfato e ouvido para sentir o cheiro e ouvir o que vem do povo.
É um político que conseguiu acumular experiências nos 12 anos como senador.
O Acre quase cinquentão vai precisar que o médico-governador aplique o remédio certo em seus órgãos vitais. Um medicamento que seja capaz de resgatar o sentimento de pertencimento do cidadão em relação às suas necessidades mais basilares.
O repórter arrisca a dizer que Tião Viana está muito mais bem preparado agora como governador do que há 12 anos, quando saiu do seu consultório direto para enfrentar as feras que habitam o Senado.
Está na idade da maturidade. E conseguiu compreender tudo o que aconteceu e está acontecendo.
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