Sopra, Delorgem, sopra!
Archibaldo Antunes
Para os que acompanham o dia a dia da Assembléia Legislativa do Acre, é fácil notar que a coerência não é o forte da turma da Frente Popular. De deslize em deslize se vai entendendo que o exercício do poder quase nunca cabe na lógica dos discursos (quando esses têm alguma lógica, claro). Há incoerências sutis e outras gritantes. E para se evitar a troça do ouvinte atento, bastaria admitir que os petralhas cometem erros. Mas ninguém da Frente Popular parece disposto a isso.
Hoje, por exemplo, o deputado Delorgem Campos (PSB) elogiou o plano de segurança adotado pelo governo federal. Que o plano é isso, que o plano é aquilo. Essa lengalenga de quem desaprendeu a morder e só sabe soprar. O deputado socialista soprou e soprou até revelar que o motivo do discurso era criticar a negligência do governo Lula com a fronteira que o Estado faz com o Peru e a Bolívia, de onde vem a droga que destrói famílias e empurra centenas de jovens acreanos para a criminalidade.
O deputado Delorgem acha que a questão é crucial. Segundo ele, se não houver controle da fronteira, por onde entram drogas e armas, estará fadado ao fracasso o plano de segurança pública. Ora, ora. Dona Aurora, se a medida é precípua no combate ao crime organizado, o plano do governo federal não presta. A lógica aqui é nua e crua. Mas o socialista acha que não, para desrespeito da inteligência dos que o ouviram.
Delorgem Campos poderia ser mais honesto com a platéia, como poderiam ser mais sinceros seus colegas que lamentaram a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente como se isso não fosse responsabilidade do governo Lula.
Num caso como no outro as premissas não conduzem à conclusão pretendida pelos oradores – mas a de que é preciso uma baita cara de pau para se juntar num mesmo discurso coisas por vezes tão díspares.
Na falta do que dizer sobre a demissão da companheira Marina, por exemplo, a maioria dos aliados resolveu se calar. Acho que essa é uma ótima tática para os que pretendem criticar por princípio aquilo que a conveniência os obriga a enaltecer.
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